Palco de manipulações

A sociedade do espetáculo é explorada em um filme que mostra os bastidores do jornalismo sensacionalista
 

Muitas vezes uma pauta indesejada pode se tornar o melhor show da cidade, no começo atinge pequenas proporções locais, mas quando é muito explorado pelo sensacionalismo, torna-se o melhor espetáculo nacional.

Esse fato acontece com Max Brackett (Dustin Hoffman) no filme “O Quarto Poder” (Mad City, 1997), dirigido por Costa-Gravas. A história acontece em Madeline, Califórnia, Max é um repórter de televisão que já teve seus momentos de glória no jornalismo, mas agora está com “baixa audiência”. O jornalista recebe uma pauta do editor para ir até um museu da cidade saber sobre os cortes de funcionários que acontece no local.
No mesmo dia surge Sam Baily (John Travolta), o ex-segurança do museu, que retorna ao museu para conversar com a proprietária e tentar reaver seu antigo emprego. Sem sucesso Sam puxa uma arma para “convencer” a Sra. Banks a “conversar”.
O problema é que o museu está cheio de crianças, um segurança negro é baleado por acidente e um repórter escondido, repassa as informações para sua assistente pelo microfone do que acontece e pede para entrar no ar. Pronto, o show foi iniciado.
Sam descobre que Max está escondido no banheiro, mas o repórter experiente começa a seduzir o segurança dizendo os poderes que a mídia tem e como pode ajudá-lo. Quando a notícia de que um homem está fazendo crianças de reféns se espalha, começa o inicio do espetáculo. Em uma das cenas Max pede para que Sam não veja as câmeras, os jornalistas e a imprensa e sim as pessoas, a Opinião Pública que pode libertá-lo e perdoa-lo, mas o alerta de que o público é volátil.
Por esse principio pode-se comparar com algumas teorias do jornalismo, a mais conhecida é a Sociedade do Espetáculo, desenvolvida por Guy Debord em 1967. Essa teoria exemplifica como as notícias podem se tornar algo crescente, pois mostra que o público prefere a imagem e representação do realismo de fácil compreensão, do que pensar e reagir.
O filme mostra como é possível fazer essa manipulação da informação em prol do jornalista, da entrevista ou da emissora. Max orienta Baily em como se comportar nas entrevistas, a maneira de falar e as ações que deve fazer, afinal como Brackett disse em cena, Sam é o melhor show da cidade. Isso se concretiza quando a imprensa surge de maneira sensacionalista, colhendo imagens sem autorização, fraudando entrevistas, criando especulações de fatos que não aconteceram, entre outras.
Tudo para que no final o público seja condicionado a acreditar apenas e tão somente nas informações transmitidas por outros meios, isso mostra como a mídia pode fazer um jogo com as emoções da população.
Contudo Sam ainda tem Max, que consegue manter a popularidade do ex-segurança em alta e também elevar sua fama como jornalista. Voltando a ser o número nos meios de comunicação. Brackett teria todo sucesso se Kevin Hollander (Alan Alda), rival e colega de trabalho, não quisesse apurar sua história. Kevin é o âncora do telejornal da emissora, posto no filme como se fosse o Willian Bonner da América. Enviado à cidade de Madeline para apurar a história de Sam Baily, mas o plano de Hollander é levar a história por um outro viés e mostrar que o ex-segurança é alguém perigoso e que precisa ser punido pelos atos que comete.
O viés que o filme apresenta é mostrar como os fatos podem se transformar em um circo de ilusões e como o jornalismo, a opinião pública e o poder da mídia podem causar consequências inimagináveis. Afinal Guy Debord já dizia, “O espetáculo consiste na multiplicação de ícones e imagens, principalmente através dos meios de comunicação de massa” e completa, “o espetáculo é a aparência do que confere integridade e sentido a uma sociedade esfacelada e dividida”.
Outra façanha do filme é quando Hollander difama Max em transmissão ao vivo, contando todos os planos esquematizados para fazer Sam sair do museu como um herói.
O dever do jornalista é ser ético, fiel, integro e verdadeiro, as informações devem ser transmitidas da maneira que aconteceram e não manipuladas apenas para obter altos números de audiência.
Esse filme mostra que ainda é possível encontrar diversos programas que usufruem de uma matéria para causar comoção nacional e conquistar a opinião pública. Talvez, isso mude quando muitos jornalistas lembrarem-se do juramento que fizeram quando receberam o diploma, pois no final de tudo quem acaba ganhando são as emissoras.
Ficou curioso para ver o filme? Assista e comente o que achou.

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